sábado, 14 de março de 2009

Tempus Fugit: Valorizar o tempo

“Se ao menos eu tivesse mais tempo no dia”.”Não tenho tempo suficiente”.Quantas pessoas todos os dias não repetem essas frases como uma ladainha.Eis uma questão cada vez mais presente na vida das pessoas: TEMPO.No grande esquema das coisas,cada um de nós tem apenas uma hora para suportar e se irritar,como disse Willian Shakespeare(1564-16160.Para a grande maioria das pessoas na sociedade atual cada dia parece mais febril do que o anterior.Cada hora parece abarrotada de coisas por fazer num tempo escasso.
Existe um desassossego diante do tempo.As pessoas devem iniciar o surpreendente aprendizado da lentidão. É preciso cultivar o sentimento de se situar de maneira diferente no tempo.A coisa mais preciosa é tomar distância em relação ao tempo,escapar à sua tirania.Cada pessoa mantém com o tempo vivido relações elásticas.
Vejamos um exemplo,nos meus tempos de faculdade eu tinha uma colega que vivia queixando-se de falta de tempo para estudar,pesquisar,participar de congressos,etc.Porém,constantemente ouvia-se a mesma comentar das muitas festas que participava,tinha hábitos de noctâmbula.Portanto,diante do tempo mesmo que escasso,temos a questão da opção,das prioridades,da vontade de utilizar o tempo como convém.A experiência subjetiva permite uma outra atitude com relação ao tempo.Vemos os efeitos do tempo,mas ninguém pode dizer que já viu o próprio tempo.
Não envelhecemos todos da mesma maneira.A felicidade queima o tempo,que os dias felizes passam depressa,e que a miséria o alonga.Assim não vivemos todos no mesmo tempo subjetivo.É como num quadro de Poussin ou de Magritte,no qual observamos vários enfoques do tempo.Ou,em certas peças de Shakespeare,como por exemplo Otelo.Os artistas brincm com o tempo,como no poema do persa Saadi que Juliete Gréco canta: “Mal entro em teu quarto já se abre a porta do dia.Eu te vejo,te tomo nos braços,a porta do dia se abre.A noite num instante se dissolve.O tempo se vinga de nossos prazeres”.Uma história extraída do poema épico hindu Marahharata(400 a.C) conta o seguinte: “Um mestre e seu discípulo andam pelo campo e param debaixo de uma árvore.Faz calor,sentam-se.O mestre diz ao discípulo: ‘Vejo um poço lá adiante.Podes ir me buscar um pouco de água?”.O jovem discípulo vai até o poço.Encontra lá uma menina.Os dois se olham com simpatia.Conversam.O rapaz se oferece para lhe tomar o cântaro e transportá-lo.Vão até a aldeia.À medida que o conto se desenrola,a gente percebe que o tempo começa a aparecer.A menina apresenta o rapaz à família.Está encantado com a menina.Finalmente casam-se.Tem filhos.A vida se escoa normal até que de repente ele se lembra,de que deve levar água a seu mestre.Abandona a aldeia,enche a tigela de água e chega à árvore sob a qual encontra seu mestre.No clarão de um olhar trocado com a menina talvez se tenha passado tudo isso.Mas essa vida terá sido realmente vivida? O sonho é a verdadeira vitória sobre o tempo,ele mesmo tem muitas vezes de enfrentar o tempo.Baruch Espinosa(1632-1677) diz que em cada instante,aqui e agora,somos imortais.O escritor espanhol José Bergamín,falava nesse sentido da “instantaneidade eterna”.Nossa vida,diz Bergamín,é uma experiência perplexa e extasiada do temporal.É uma série de momentos históricos atravessada por instantes de eternidade.

Quando um acontecimento nos fascinou,uma expressão comum diz que “o tempo parou”.Numa época de tão grande avanços tecnológicos em diversos setores,as pessoas não tem tempo para si mesmas e nem para os outros,enfim não tem tempo para viver! E na correria alucinada essa vida se torna um simulacro e perde sua densidade humana.O poeta Mário Quintana(1906-1984) talvez captou essa realidade ao dizer: “Um dia...prono!...me acabo.Pois seja o que tem de ser.Morrer: que me importa? O diabo é deixar de viver!”.
É o desafio de viver uma vida digna,humanizante e aberta ao transcendente.Encarar cada instante do nosso tempo como uma oportunidade que Deus nos concede para fazer algo construtivo.O mais importante não é a quantidade de tempo que cada pessoa tem à disposição.A ninguém é dado sabê-lo de antemão.Entramos na vida num ponto determinado mas,uma vez que empreendemos o caminho,a incógnita do ponto final nos acompanha sempre,e só se elucida quando ele chega.
O tempo é um grande presente que Deus nos confia.Devemos saber empregar bem o tempo de que dispomos.Quantas pessoas gastam o seu tempo tão obsessivamente preocupados somente em acumular riquezas,em buscar avidamente o prestígio e o poder.Já reparou na maneira admirável como aquele cuja existência é breve sabe administrar bem seu tempo de vida? Isso podemos notar nas vidas de Mozart e de Rimbaud.Devemos aproveitar o tempo do modo mais inteligente.
Diante da condição da temporalidade do homem e da mulher e das questões que suscita na existência de cada um,é pertinente as palavras do poeta alemão Rainer M.Rilke(1875-1926): “Não busque por enquanto respostas que não lhe podem ser dadas,porque não as poderia viver.Viva por enquanto as perguntas.Talvez depois,aos poucos,sem que o perceba,num dia longínquo,consiga viver a resposta”.
“Tempus fugit...” Quem sabe que o tempo está fugindo descobre,a beleza única do momento que nunca mais será...

Prof.José Pereira da Silva

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